Resposta à Reportagem da Agência de Jornalismo Investigativo Publica
Nesse texto vou responder a algumas alegações a meu respeito que foram feitas na reportagem intitulada “WikiLeaks aponta que grupo antidireitos europeu tem mais de 200 sócios brasileiros” produzida pela Agência de Jornalismo Investigativo Publica.
Em primeiro lugar, gostaria de confirmar que a informação de que eu contribui financeiramente com o CitzenGo, com quantia pequena, é verdadeira, e apoio o trabalho do CitzenGo pela causa pró-Vida. Tenha-se em conta que interromper a vida de uma criança no ventre materno não é permitido na lei brasileira. Mesmo que fosse, tenho a opinião — ratificada, por exemplo, no Pacto de São José de Costa Rica, do qual o Brasil é signatário— de que se trata de uma violação do direito à vida, e portanto o aborto é grave. Mesmo que a lei mude, minha opinião ainda estaria garantida na Constituição pelo direito de liberdade de expressão. Os documentos vazados são da época em que ainda não era funcionário público, já que comecei o exercício de minha função em 2018; contudo, mesmo se eu fosse funcionário público à época, não teria transgredido nenhuma lei, nem mesmo o código de conduta do funcionalismo público. Fora do expediente, todo funcionário público pode manifestar livremente sua opinião política assim como pode exercer livremente sua religião e dar apoio a qualquer grupo legítimo. Até mesmo a agência Publica, que produziu a reportagem, conta com doações individuais, e os funcionários públicos que doam para ela exercem legitimamente o mesmo direito que eu exerceria se tivesse doado para a CitzenGo nas mesmas condições.
Gostaria de destacar que não defendo a estigmatização das mulheres grávidas que pensam em abortar seus filhos, mas defendo alternativas que possam conciliar os interesses da mulher e do ser humano que nela se desenvolve.
A informação sobre minha contribuição e apoio no passado ao CitzenGo é verdadeira. No entanto, o artigo não pára por aí, e o parágrafo em que sou citado traz informações imprecisas ou falsas sobre minhas atividades ou declarações, que gostaria de esclarecer a seguir.
O primeiro ponto é um esclarecimento sobre a questão do grupo “Diálogos Ciência e Fé”. Na matéria, a definição do grupo como sendo ecumênico é questionada, como se o grupo estivesse agindo mal ou estivesse errado por declarar-se ecumênico e ao mesmo tempo estar vinculado a uma Paróquia. Gostaria de esclarecer que um ato ou grupo ecumênico pode ser liderado ou conduzido pela Igreja Católica. O melhor exemplo é a Campanha Ecumênica da Fraternidade, que talvez seja o mais conhecido evento ecumênico do Brasil. A campanha da fraternidade é promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos). Portanto, é perfeitamente possível um grupo Paroquiano, apoiado por uma Paróquia, ter uma atividade ecumênica, isto é, uma atividade que aceita a participação de pessoas de outras denominações cristãs.
O último ponto que precisa de esclarecimento é o que considero mais preocupante. É afirmado na reportagem que o artigo assinado por mim na Gazeta do Povo, intitulado “Lockdown Funciona?”, questiona o Lockdown como medida efetiva de combate à pandemia. A afirmação é falsa. Muitas pessoas que leram o artigo, favoráveis ao lockdown, elogiaram, pois no artigo eu reafirmo a eficácia do lockdown, embora faça ponderações, com base em estudos científicos publicados, sobre outras medidas importantes que precisam ser realizadas além do lockdown. Além disso, pondero sobre a necessidade de que a população mude de comportamento para que o lockdown se faça eficaz. No texto eu mostro que não há resposta simples para a pergunta “Lockdown funciona?”, e convido o leitor a refletir sobre os vários aspectos do problema. Isso não é equivalente a “questionar o lockdown”, mas sim a pensar sobre o problema. O próprio verbo “questionar” está mal colocado; lockdown não é um ente inteligente cuja autoridade se deve ou não questionar; é uma opção humana para um problema grave, sobre o qual devemos pensar com seriedade e sem amarras ideológicas. Não é necessário nenhuma agência de checagem para verificar que minha afirmação sobre o meu próprio texto é verdadeira: basta ler o texto (ver seção “Lockdown funciona?”).
Esse ponto é grave pois a informação falsa sobre o meu texto pode fazer o leitor julgar mal não somente a minha pessoa, mas também a instituição pública da qual faço parte, uma das mais prestigiadas escolas de engenheria do país, e que nada tem a ver com a questão.
Por último, gostaria de agradecer às jornalistas da Agência de Jornalismo Investigativo Publica por terem concordado cordialmente em divulgar minha resposta. Confesso que foi muito desagradável ter meu nome exposto dessa forma, mas não tenho problema em declarar que sou cristão e que me pauto por alguns valores que são considerados negativos e talvez perversos pelos jornalistas dessa agência. Tenho apreço pela liberdade, e é por causa dela que defendo a liberdade tanto dos que apoiam o CitzenGO quanto a liberdade dos que apoiam seus congêneres no campo oposto.
Aos colegas que leram o artigo e talvez tenham ficado com má impressão a meu respeito, gostaria de declarar que no exercício da minha profissão trato a todas as pessoas com cordialidade e respeito, sem fazer distição de nenhum tipo. Faço votos de que possamos viver em uma sociedade verdadeiramente plural, e que possamos construir um futuro melhor a partir de valores comuns como o respeito pela dignidade da vida humana, a fraternidade e a liberdade.